Para ser
Pintor – Artista não basta pintar.
Artista é
aquele que mergulha no próprio interior ou voa além do próprio espaço.
Condensar
tempo e espaço no som, na palavra ou na cor é função do artista, seja ele velho
ou moço. Pode haver diferença na técnica, e há, nunca nos fundamentos da busca.
A busca, que
também é mistério, é atributo do artista, do iniciado, daquele que transpõe o
equador da própria rua. Pelo que vi na sua última exposição no Senado Federal Sayonara é
Artista.
Além de
estilo e temática, da forma igual e segura que revela paciência e sabedoria na
aplicação das tintas, especialmente no tema ecológico enfocado, seus quadros tem cor. Cor, diga-se
de passagem, surpreendente: não é tropical, não é incandescente ou agressiva. É
a cor de quem fala desse interior do interior da gente mesmo, talvez do sono,
da solidão, da paz ou, da tranquilidade necessária a uma convivência pacífica entre o homem, o animal, a planta ou mesmo a
terra, Titéia, e tudo mais inocente ou inútil ao reino do TER, do SOMAR.
Sayonara
soma tudo.
Mais que isso: adiciona tudo à vida que ela extrai na ponta do pincel de si própria e oferece ao mundo como lição de SER e de ESTAR.
Aqui, eu me
calo.
O restante
que o diga o futuro.
Brasília,
outubro de 1989
Cyl Gallindo
O Espinho da Rosa
Meu primeiro
contato com a Obra de Sayonara foi numa exposição que a artista realizou no
Senado Federal. Registrada minha impressão no livro de presença, Sayonara
procurou-me para agradecer e ficamos amigos. Noutras ocasiões, senti seus
anseios como professora de Artes do Colégio Marista, no pleito de uma bolsa de
estudos, junto ao MEC, para Portugal, na natural alegria contagiante por tudo o
que se relaciona com artes plásticas, o poder criador do ser humano, a probabilidade do uso da arte como
instrumento de Educação, inclusive com a reutilização de objetos descartados
pela sociedade de consumo.
Com
voluntária mexida nas pedras de xadrez, envolvendo outro tipo de emoção,
ressurge Sayonara, casada, morando em João Pessoa. De lá (talvez por não
encontrar o admirador - amigo Orlando Tejo) convida-me a escrever esta nota
para sua Exposição, sob os auspícios de Wilton de Souza, no Recife.
Uma Artista
que por dom acolhe e escolhe os próprios mistérios, cuja mensagem interior choca-se
com a força da natureza em tudo o que vai visualizando, sem dúvida, sabe
harmonizar formas e cores. Nada melhor do que seu trabalho como mensagem. Como
as sinfonias de Beethoven, dispensaram sons e melodias externas, há algo que
mana do próprio espírito, que produz “a maravilha/ do cheiroso licor que o tronco chora”, de
que nos fala Camões.
Nos trabalhos de Sayonara há uma simplificação
na estrutura do desenho, mas se percebe a sua presença modelando a luz e
sombra, as quais gritam a gestação de um desespero maior ( da natureza? da
sociedade humana? da vida?) talvez da gula da própria artista pela cor, pela
forma, pela arte.
Berço de tantos expoentes, cultores de uma arte
germinativa, como Adão Pinheiro no entalhe; Brennand na cerâmica; João Câmara e
Anchises Azevedo, na pintura; Zé Cláudio, na escultura de pedra; Abelardo da
Hora no monumento; Maria Carmem e Guita, no desenho e tantos outros em aspectos
vários, o Recife, pátria-umbigo de minha razão, saberá acolher Sayonara, não
apenas pelo que ela mostra nesta exposição, mas pelo que transmite, através de
cada tela e de sua pessoa, da penetrante vontade de transpor o cristal do seu
espelho e se localizar no futuro, como artista.
Wilton de
Souza conhece bem o adágio: “O espinho quando tem de furar de pequeno traz a
ponta”. Dessa espetada de mais uma mulher que se projeta com seus próprios
valores e cresce, o Recife não se livra. Vai ver, porém, que ao lado do espinho
há uma rosa: Sayonara
Brasília-
DF, outubro de 1991
Cyl Gallindo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cyl_Gallindo
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