segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Imortal Pernambucano, Cyl Gallindo

SAYONARA E A COR
Para ser Pintor – Artista não basta pintar.
Artista é aquele que mergulha no próprio interior ou voa além do próprio espaço.
Condensar tempo e espaço no som, na palavra ou na cor é função do artista, seja ele velho ou moço. Pode haver diferença na técnica, e há, nunca nos fundamentos da busca.
A busca, que também é mistério, é atributo do artista, do iniciado, daquele que transpõe o equador da própria rua. Pelo que vi na sua última  exposição no Senado Federal Sayonara é Artista.
Além de estilo e temática, da forma igual e segura que revela paciência e sabedoria na aplicação das tintas, especialmente no tema ecológico  enfocado, seus quadros tem cor. Cor, diga-se de passagem, surpreendente: não é tropical, não é incandescente ou agressiva. É a cor de quem fala desse interior do interior da gente mesmo, talvez do sono, da solidão, da paz ou, da tranquilidade necessária a uma convivência pacífica  entre o homem, o animal, a planta ou mesmo a terra, Titéia, e tudo mais inocente ou inútil ao reino do TER, do SOMAR.
Sayonara soma tudo.
Mais que isso: adiciona tudo à vida que ela extrai na ponta do pincel de si própria e oferece ao mundo como lição de SER e de ESTAR.
Aqui, eu me calo.
O restante que o diga o futuro.
Brasília, outubro de 1989
Cyl Gallindo

O Espinho da Rosa
Meu primeiro contato com a Obra de Sayonara foi numa exposição que a artista realizou no Senado Federal. Registrada minha impressão no livro de presença, Sayonara procurou-me para agradecer e ficamos amigos. Noutras ocasiões, senti seus anseios como professora de Artes do Colégio Marista, no pleito de uma bolsa de estudos, junto ao MEC, para Portugal, na natural alegria contagiante por tudo o que se relaciona com artes plásticas, o poder criador do ser  humano, a probabilidade do uso da arte como instrumento de Educação, inclusive com a reutilização de objetos descartados pela sociedade de consumo.
Com voluntária mexida nas pedras de xadrez, envolvendo outro tipo de emoção, ressurge Sayonara, casada, morando em João Pessoa. De lá (talvez por não encontrar o admirador - amigo Orlando Tejo) convida-me a escrever esta nota para sua Exposição, sob os auspícios de Wilton de Souza, no Recife.
Uma Artista que por dom acolhe e escolhe os próprios mistérios, cuja mensagem interior choca-se com a força da natureza em tudo o que vai visualizando, sem dúvida, sabe harmonizar formas e cores. Nada melhor do que seu trabalho como mensagem. Como as sinfonias de Beethoven, dispensaram sons e melodias externas, há algo que mana do próprio espírito, que produz “a maravilha/  do cheiroso licor que o tronco chora”, de que  nos fala Camões.
 Nos trabalhos de Sayonara há uma simplificação na estrutura do desenho, mas se percebe a sua presença modelando a luz e sombra, as quais gritam a gestação de um desespero maior ( da natureza? da sociedade humana? da vida?) talvez da gula da própria artista pela cor, pela forma, pela arte.
Berço  de tantos expoentes, cultores de uma arte germinativa, como Adão Pinheiro no entalhe; Brennand na cerâmica; João Câmara e Anchises Azevedo, na pintura; Zé Cláudio, na escultura de pedra; Abelardo da Hora no monumento; Maria Carmem e Guita, no desenho e tantos outros em aspectos vários, o Recife, pátria-umbigo de minha razão, saberá acolher Sayonara, não apenas pelo que ela mostra nesta exposição, mas pelo que transmite, através de cada tela e de sua pessoa, da penetrante vontade de transpor o cristal do seu espelho e se localizar no futuro, como artista.
Wilton de Souza conhece bem o adágio: “O espinho quando tem de furar de pequeno traz a ponta”. Dessa espetada de mais uma mulher que se projeta com seus próprios valores e cresce, o Recife não se livra. Vai ver, porém, que ao lado do espinho há uma rosa: Sayonara
Brasília- DF, outubro de 1991
Cyl Gallindo

 http://pt.wikipedia.org/wiki/Cyl_Gallindo